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sábado, 8 de outubro de 2011

Nos EUA ninguém segura os peões brasileiros


Os americanos têm um mistério competitivo a resolver: como os brasileiros
conseguem ficar tanto tempo em cima de um touro de pulo?


Os quatro primeiros colocados no torneio profissional de Montaria em Touro dos EUA, o “Professional Bull Riders Tour”, são todos brasileiros. E entre os primeiros 40 peões existem mais 6 brasileiros, incluindo o campeão mundial do ano passado, Renato Nunes — mais que o triplo de brasileiros do que há dez anos entre os 40 primeiros.

O Brasil
vem produzindo fortes competidores desde quando o torneio surgiu, há quase 20 anos. Mas, até esta temporada, seus peões nunca tinham sido tão dominantes. Os brasileiros venceram 15 dos 23 eventos até o momento. Suas proezas vêm fazendo com que outros competidores reavaliem suas técnicas, se esforcem para aprender português e até tirem férias no Brasil na esperança de conseguir descobrir um pouco dos segredos do sucesso dos brasileiros.

“O segredo deles é que conseguem ficar montados bem mais do que nós — até aí eu sei —, mas não tenho ideia de como eles fazem isso”, disse Sean Willingham, um caubói americano de 30 anos, 20o colocado no torneio. Ele passou o período entre competições, durante os últimos meses, participando de pequenos eventos brasileiros. Quando conseguiu superar o choque cultural — competições que começam à 1 da madrugada, touros de dois metros e hambúrgueres que vêm com ovo frito, presunto e bacon —, ele passou as estudar os peões locais e acabou ficando mais confuso ainda.

“Eles montam do jeito contrário ao que eu aprendi — eles sentam no boi e tentam ganhar na força. Eu aprendi a levantar a bunda. É tudo ao contrário,” disse ele.

O peão australiano Ben Jones, de 32 anos, também não consegue entender—e ele até mesmo já tentou usar a corda especial que os brasileiros preferem. “Eu presto muita atenção neles, com toda certeza. Estou cansado de ser derrotado por eles, disse o caubói que é o número 14 no ranking. “Muita gente fica irritada com eles por estarem vencendo tudo.”

Os eventos de montaria, que atraem até 46 mil fãs por dia, acontecem pelos Estados Unidos inteiro quase que um final de semana sim, outro não, de janeiro a outubro. São rodeios como os demais: os atletas precisam ficar sobre touros por um mínimo de oito segundos e são julgados por seu poder de controle, ritmo e equilíbrio.

A performance do touro também é julgada: os peões recebem mais pontos se a montaria dificulta a vida deles.

Mas a vantagem dos brasileiros nos torneios não é exatamente um mistério sendo o Brasil um país rico em gado e os rodeios tão populares nas vastas planícies do sul do país. Mas os resultados deste ano irritaram bastante alguns fãs.

“Eu estou meio chateado com tudo isso”, disse Joe Gregg, um especialista em computação de 60 anos de Fargo, no Estado de Dakota do Norte. Ele disse ainda que achou algumas apresentações de brasileiros fabulosas mas preferiria que eles tivessem o seu próprio campeonato. “Não há nada mais americano do que um caubói e aí, de repente, vêm esses brasileiros e ganham tudo”, disse ele.

Este ano, Catherine Goldhammer, que escreve um blog sobre montaria em touro, disse que ficou cansada de ouvir os locutores de eventos usando a expressão “domínio brasileiro”, um termo, segundo ela, mais polarizador do que o necessário.

“Gostaria de lembrar ao nossos queridos locutores que isto aqui não é a Olimpíada”.

Ela sugeriu em seu blog alguns fatores que podem estar dando aos brasileiros alguma vantagem, além da nacionalidade. “Os peões brasileiros parecem ter braços mais fortes, mas talvez isto seja apenas uma impressão pois eles gostam de enrolar as mangas da camisa e mostrar os bíceps. Fico pensando se há algum segredo em enrolar a manga — isso apoia o bíceps e o torna realmente mais forte?”, ironizou a blogueira.

“O segredo é a dedicação”, disse o competidor americano Dustin Elliott, atualmente o número 11 no ranking mundial. Ele pediu aos seus colegas brasileiros para ensiná-lo português mas até agora só conseguiu aprender palavrões. “Nós somos americanos, somos preguiçosos, ponto final — estamos dormindo no ponto. Eu detesto ir malhar na academia, é muito chato.”

Há diferenças técnicas. Durante as últimas duas décadas os brasileiros têm usado um tipo diferente de corda para conseguir se manter em cima do animal e sob controle, uma moda iniciada pelo peão mais premiado do Brasil, Adriano Moraes.

Este ano, o 14o no ranking, Luke Snyder, do Estado de Missouri, resolveu trocar para a corda brasileira. “Ela realmente ajuda com bois que escapam da sua mão”. Sobre os peões brasileiros, disse ele, “a culpa é nossa se a gente não consegue ganhar deles”

Mas outros peões que experimentaram a corda brasileira, inclusive Jones, o australiano, acabaram voltando atrás. “Cachorro velho não aprende truque novo”, disse ele.

Outra possível vantagem atribuída aos peões brasileiros seria eles terem crescido rodeados de bois de tamanho maior, criados para o corte e não para rodeio.

“Lá os bois são um pouco maiores. Eles têm um cupim maior e pulam alto mesmo, então eles precisam se preparar muito bem para montar esses bois e por isso se mantêm em boa forma”, disse Jim Haworth, o diretor-presidente do PBR Tour.

Já o competidor brasileiro Robson Palermo diz que isso é na verdade uma desvantagem: ele acha que é mais fácil montar bois maiores pois eles se movem mais lentamente. “Os caras montam superbem no Brasil e aí quando chegam aqui eles acabam levando tombo dos bois.” Palermo, terceiro no ranking, diz que os brasileiros acabam se dando bem pois se apóiam uns nos outros e têm menos distrações nos Estados Unidos.

A blogueira Goldhammer destaca que Moraes, que se aposentou dois anos atrás, ainda atua como treinador para muitos peões brasileiros. “Não é nada mal ter um tricampeão mundial por perto dando conselhos.”

Moraes recebeu o seu primeiro título de campeão mundial em 1994, tornou-se o primeiro a receber dois títulos em 2001 e serviu de inspiração a centenas de brasileiros que seguiram seus passos, abocanhando US$ 3,5 milhões no total de sua carreira.

“Eles viram que havia dinheiro aqui”, diz Moraes. Ele diz que não há peões ricos no Brasil porque “eu não acho que pais ricos deixariam seus filhos subirem nos bois; uma família rica vai expor seus filhos a outro tipo de esporte, como o golfe”.

Quaisquer que sejam os segredos dos brasileiros, provavelmente não têm nada a ver com as razões pelas quais eles tiveram sucesso no futebol. Segurar num boi que pula com toda a sua energia não permite o mesmo espaço para criatividade e estilo.

“Eu não acho que fazemos mais bonito. Não dá para chamar tanta atenção como no futebol”, disse Moraes. “Bem que eu queria.”

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